
Por esta é que não esperavam, pois não? Nem o gato que se pôs a milhas quando me viu. Estava tentando a sorte para uns restos de comida que lhe matasse a malvada. Coitado. Assustou-se e desistiu da
operação alimentar. Por respeito ao bicho, fiz um recorte na foto e cortei-lhe a cabeça, salvo seja. Estou agora a pensar que assim é que deviam fazer os senhores das televisões quando nos mostram os desgraçados que vão todos contentes buscar saquinhos de comida, feita ou por fazer, e até roupinhas que as criaturas bondosas já não querem. Alguns até gostam de ser entrevistados, nota-se. Riem e falam muito e têm aquele ar de agradecidos por a vida lhes estar a mudar
radicalmente. Crise? O quê? Uns acham que na rua não se nota nada. Ainda não deram por falta de cartão nem de cobertores.
"A comida? Ah lá isso, agora às vezes é preciso um chapadão naqueles novatos que aparecem a catar os contentores de madrugada à porta dos supermercados. Com um arzinho todo encolhido, a assobiarem para o lado, mas a gente bem os topa. Que acabou o subsídio de desemprego e tal, e que a mulher ganha os mínimos e sem contrato e tal, e que a prestação da casa upa upa e tal, e que as coisitas de ouro já foram para um invejoso desses novos que há por aí e tal, e que não querem deixar de aparecer na bica pela manhã para conservar a fachada e tal...". Conversas destas são uns tratados que os meninos e meninas que andam a fazer pós-graduações e mestrados em sociologia e psicologia e outras ias e tal, deviam consultar e
epistemologicamente sistematizar e compilar e se a semiótica ajudar e tal, para ficarem avisados que a vidinha tem por aí muito caixote do lixo à espera de gato envergonhado.
A crise? Onde? Qual? Não dei por nada.
12 comentários:
É verdade que há muita pobreza enapotada. Muitos não se querem mostrar. Outros mais modestos, como refere até gostam de aparecer nos telejornais. Mas a crise mais acentuada e mais envegonhada está na classe média.
Beijo
Mas afinal onde é que está o gato sem cabeça?
Anda por aí de cabeça perdida?
Já estava a sentir falta do teu sinal de aviso! :-))
Abraço
A ironia e o humor são vias eficazes de desmistificação e de clarificação da realidade. E a Senhora bem o sabe, Senhora Dona Tela
É, ninguém dá por nada,,,só os tarecos!
Abraço.
De facto também os tarecos sentem a crise. Aprecio a sua ironia, minha amiga. Beijos.
Futuro!
Oh Telinha, nem tudo é de visão instântanea; como convém, a crise tem prazo de pagamento alargado...
a ver vamos, como dizia o outro.
Os meus cordiais cumprimentos para a menina :))
O que nos vale, Dona Tela, apesar de tudo, é que nem todos os sociólogos e psicólogos estão assim tão afastados da realidade. Pelo que sei, a alguns deles entram-lhes nos ouvidos e no coração histórias terríveis a que com sabedoria e afecto conseguem, ou pelo menos tentam, dar solução. Pois que não depende só deles a solução, claro.
Também ajudaria se as televisões falassem da crise humana de um modo mais humano e menos ligeiro e comerciante.
receio que o seu texto seja uma espécie de "gato escondido com o rabo de fora..."
"epistemologicamente" falando a senhora é a incarnação da Madre Teresa!...
(corrosiva a sua ironia, Dona Tela).
beijo
E se os gatos envergonhados em vez de serem envergonhados protestassem bem alto ???
Sempre tao interessantes os seus posts. As vezes nao comento, mas sempre leio
Esse era um gato com vergonha , fez bem em cortar-lhe a cabeça...
os meus mais sinceros cumprimentos , minha senhora , e morte á crise já!
_______ JRMARTO
Sim, a vidinha tem cá uns caixotes; umas gavetas e tais...
Gostei de te veisitar.
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